Menos Nissan na Europa? Novo plano de recuperação parece indicar que sim
A Nissan prepara um novo plano de recuperação que deverá levar a uma redução da sua presença na Europa. Que razões estão por detrás desta mudança?
No próximo dia 28 de maio será apresentado um novo plano de recuperação da Nissan e revela uma mudança de estratégia que afetará a sua presença em vários mercados, como o continente europeu.
Por enquanto, as informações conhecidas provém de fontes internas em declarações à Reuters (com conhecimento direto dos planos). Um plano de recuperação que, caso se confirme, verá a presença da Nissan substancialmente reduzida na Europa e reforçada nos EUA, China e Japão.
As razões por detrás do repensar da presença da Nissan no mundo devem-se, essencialmente, ao período de crise profunda pelo qual tem passado, ainda a pandemia não tinha “parado” a indústria automóvel. Os últimos anos têm sido particularmente difíceis para o construtor japonês, a debater-se com problemas em várias frentes.
Além do decréscimo de vendas e, consequentemente, lucros, a detenção de Carlos Ghosn no final de 2018, por acusações de má conduta financeira, fez tremer os alicerces da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi e criou um vazio de liderança na Nissan.
Um vazio que só foi devidamente preenchido com Makoto Uchida, que assumiu o cargo de CEO apenas no final de 2019, para, pouco tempo depois, e como se não bastasse, ter de lidar com uma pandemia que colocou (também) toda a indústria automóvel sob elevada pressão.
Apesar do contexto desfavorável, a Nissan parece ter já definido as linhas mestras de um plano de recuperação, que vão na direção oposta à expansão agressiva protagonizada nos anos de Carlos Ghosn. A palavra de ordem para o novo plano (para os próximos três anos) é, ao que tudo indica, racionalização.
Para trás fica a perseguição agressiva de quota de mercado, uma estratégia que levou a grandes campanhas de descontos, especialmente nos EUA, destruindo rentabilidade e até delapidando a imagem de marca. Ao invés, o foco é agora mais estreito, apostando em mercados chave, em restaurar ligações com distribuidores, em rejuvenescer uma gama envelhecida, e voltar a disciplinar preços para recuperar rentabilidade, receita e lucros.
Isto não é apenas um plano de redução de custos. Estamos a racionalizar as operações, a repriorizar e a voltar a focar o nosso negócio, a plantar as sementes para o nosso futuro.
Declaração de uma das fontes à Reuters
A mudança de estratégia na Europa
Neste novo plano de recuperação a Europa não ficará esquecida, mas não é, claramente, um dos focos. A Nissan pretende concentrar esforços em três mercados chave — Estados Unidos da América, China e Japão —, onde o potencial de vendas e rentabilidade é superior.
Este novo foco é também uma forma de reduzir a competição com os restantes membros da Aliança, ou seja, a Renault na Europa, e a Mitsubishi no Sudeste Asiático. A presença da Nissan na Europa promete ser mais reduzida, focada essencialmente em dois modelos chave, o Nissan Juke e o Nissan Qashqai, os seus modelos de maior sucesso no continente europeu.
A estratégia para a Europa, com uma gama mais restrita e direcionada, é a mesma que o construtor japonês está a “desenhar” para outros mercados, como o Brasil, México, Índia, Indonésia, Malásia, África do Sul, Rússia e o Médio Oriente. Claro que com outros modelos que melhor se adaptam a cada um desses mercados.
O que é que isto pode significar na gama europeia da Nissan nos próximos anos? Que comece a especulação…
Tendo em conta o foco nos crossovers, o Juke e o Qashqai (nova geração em 2021) estão garantidos. Mas outros modelos poderão desaparecer a médio prazo.
Entre eles, o Nissan Micra, desenvolvido a pensar na Europa e produzido em França, é aquele que parece estar em maior risco de não ter um sucessor. O novo X-Trail, recentemente “apanhado” numa fuga de imagens, à luz destes novos desenvolvimentos, poderá também não chegar ao “Velho Continente”.
Restam ainda dúvidas sobre a permanência ou lançamento de outros modelos. Que destino para o Nissan Leaf? Será que o Arya, o novo crossover elétrico, chegará à Europa? E o já confirmado sucessor do 370Z, chegará até nós? E o “monstro” GT-R? Até a pick-up Navara parece estar sob ameaça de sair do mercado europeu.
Dia 28 de maio, certamente haverá mais certezas.
Fonte: Razão Automóvel