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Dessalinização com energia solar arranca em Portugal

Ensaios do protótipo que está a ser desenvolvido no Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Industrial devem ficar concluídos no verão do próximo ano, revelou ao JE o responsável pelo projeto, Szabolcs Varga.

Um grupo de investigadores do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI), no Porto, desenvolveu este ano um sistema de dessalinização que é acionado por energia solar térmica para transformar água do mar em água potável e contribuir para a resolução da crise hídrica quer assola o país.

Os cientistas ainda estão a recolher dados para provar a viabilidade da tecnologia, anunciada em fevereiro, mas o protótipo encontra-se praticamente finalizado, disse ao Jornal Económico (JE) o investigador Szabolcs Varga, responsável pelo projeto. Os ensaios com este piloto deverão ficar concluídos no verão de 2023, apesar dos atrasos pela falta de matérias-primas e subida da inflação.

“A construção sofreu vários atrasos devido à necessidade de desenvolver vários componentes não existentes no mercado e à escassez de materiais com cabimento no orçamento disponível. Quando o financiamento foi atribuído, antes da pandemia, os custos previstos da construção do protótipo eram muito diferentes dos atuais. O progresso está dependente do ritmo em que conseguimos obter as verbas adicionais para avançar”, explicou.

Problema da energia preocupa especialistas
Em causa está um equipamento eletrónico de dessalinização, pensado para aplicações em pequena escala, que recorre a energia solar térmica e a tecnologia de compressão de vapor térmica, para tornar água salgada em água potável, com qualidade suficiente para consumo humano. A “reciclagem” da água é possível graças a dois sistemas que funcionam em paralelo: o coletor solar térmico e o subsistema de dessalinização, de acordo com a informação transmitida pelo INEGI.

“Portugal foi apenas confrontado com escassez de água potável recentemente, por isso, não havia investimento considerável no país na área de dessalinização. Com as alterações climáticas atuais, o paradigma mudou, obrigando a gestão das fontes hídricas no país a apresentar uma resposta célere e efetiva”, alertou o investigador, em declarações ao JE. A seu ver, este processo “terá um papel importante”.

No entanto, Szabolcs Varga ressalva que a retirada do excesso de sal e outros minerais da água para a tornar potável não envolve apenas questões tecnológicas. “Infelizmente, as centrais de dessalinização instaladas no mundo não são sustentáveis nem do ponto de vista energético, nem ambiental. Portugal terá, num futuro muito próximo, de encontrar o caminho para assegurar as necessidades de consumo de água e simultaneamente a sustentabilidade das tecnologias aplicadas”, adverte o especialista.

Cientistas apelam a parcerias com empresas privadas e públicas

A tecnologia criada no INEGI, designada “Small Soldes”, foi desenvolvida com cofinanciamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e da União Europeia, através do Compete 2020. Na segunda metade do próximo ano, deverá atingir um TRL (Technological Readiness Level) de 6-7, sendo que uma tecnologia pronta para comercialização corresponde a um TRL de, pelo menos, 9, esclarece Szabolcs Varga. O investigador afirma ao JE que “o avanço para o TRL 9 já se encontra nos planos do grupo [de investigadores do INEGI], tendo um prazo previsto de mais ou menos três anos”, embora “o progresso para um TRL de 9 será apenas possível em colaboração com empresas e/ou entidades públicas”, com as quais “os primeiros passos” já foram dados nesse sentido.

Para o futuro, Szabolcs Varga deixa um alerta: as tecnologias de dessalinização que existem no mercado – e são utilizadas, por exemplo, em Israel (onde mais de 80% da água potável é proveniente do mar) – “não podem dar resposta à escassez de água ao nível mundial”, porque precisam de “grandes quantidades de energia, maioritariamente de fontes não renováveis”. “Um rápido acréscimo da produção da potável através de dessalinização seria altamente negativo para o ambiente. Segurança de água, sustentabilidade energética e ambiental são objetivos sociais fortemente interligados e devem ser analisados juntamente”, conclui.

Fonte: O Jornal Económico

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