Indústria automóvel com défice de 20% em investimento e sustentabilidade
Estudo da Capgemini indica que 62% das empresas do setor automóvel já têm uma estratégia de sustentabilidade estruturada, mas a sua execução continua a ser fragmentada.
Fonte: Capgemini Research Institute
Há, contudo, variações significativas entre os países no que diz respeito às iniciativas sobre sustentabilidade que estão em curso. A Alemanha e os EUA são os dois países que lideram o cumprimento dos aspetos prioritários, incluindo o “apoio e a promoção da economia circular” e os “processos industriais sustentáveis”, enquanto os outros países estão muito atrás deles, incluindo no que diz respeito à “mobilidade e serviços digitais”, ao “fornecimento de metais, materiais e produtos amigos do ambiente” e também na “computação sustentável”, que inclui aspetos como o consumo de energia dos centros de dados.
Abordagem holística? Nem tanto…
Apesar dos claros avanços do setor, existem algumas deficiências no foco para a melhoria da sustentabilidade.
O estudo analisa a evolução de 14 iniciativas que abarcam todos os aspetos da cadeia de valor automóvel, desde as relacionadas com o “desenvolvimento sustentável de Produtos de I&D” até ao “apoio à economia circular”.
“É necessário um novo impulso que acelere uma abordagem sistemática”
“A indústria automóvel tem vindo a evoluir significativamente em matéria de sustentabilidade, mas atualmente é necessário um novo impulso que venha acelerar uma abordagem sistemática”, afirma Markus Winkler, responsável global pelo setor automóvel na Capgemini. “Para se atualizar e se transformar numa indústria mais respeitadora do meio ambiente, os fabricantes automóveis devem colocar o foco de forma mais clara em duas prioridades essenciais: a necessidade de o setor estabelecer um vínculo mais estreito entre as suas estratégias de sustentabilidade e de produção de carros elétricos, e a necessidade de aumentar o investimento em iniciativas de economia circular”.
“É também crucial que as empresas exijam aos membros das suas direções a responsabilidade dos resultados nestas áreas, que utilizem soluções tecnológicas inteligentes em toda a cadeia de valor e que adotem, enquanto setor, uma abordagem colaborativa que garanta o desenvolvimento de mais processos e standards de sustentabilidade”, acrescenta aquele responsável.
O nível de esforço das várias iniciativas é, contudo, irregular, segundo a consultora: 52% das empresas está a trabalhar em programas de economia circular, mas apenas 8% dizem respeito à sustentabilidade nas TI (Tecnologias de Informação).
Existem também diferenças no que diz respeito à atribuição de responsabilidades e competências, já que apenas 41% das empresas possui um órgão central dedicado à supervisão dos objetivos de sustentabilidade e apenas 45% envolve os seus gestores de topo nesta atividade, fixando-lhes o cumprimento de objetivos concretos nesta área.
A nível mundial, apenas 19% das empresas têm pelo menos quatro objetivos quantificáveis correspondentes às áreas identificadas como as de grande impacto no desempenho da sua abordagem à sustentabilidade (a reciclagem de resíduos, o consumo de água e a ética no trabalho).
Diferença de 50 mil milhões de dólares
Além disso, as atuais despesas correntes dos fabricantes automóveis em medidas de proteção do ambiente (excluindo os investimentos em I&D, a produção de carros elétricos e os serviços de mobilidade) estão longe dos objetivos definidos internacionalmente para a sustentabilidade: a diferença está estimada em 50 mil milhões de dólares.
O estudo também se debruça sobre a análise dos principais programas de sustentabilidade do setor automóvel (viaturas elétricas e economia circular) e do que estes precisam para ser bem-sucedidos, concluindo que é necessário dar uma maior ênfase ao tema da sustentabilidade para que a transição para os carros elétricos seja realmente efetiva.Um dos aspetos mais críticos para os programas de sustentabilidade na indústria automóvel é a redução das emissões de gases com efeito de estufa. Os veículos elétricos têm um impacto positivo muito significativo neste âmbito. Para que este impacto se estenda a todo o ciclo de vida dos carros elétricos, é essencial que a eletricidade de que se alimentam proceda de uma fonte de energia renovável.
Porém, e de acordo com o estudo da Capgemini, apenas 15% dos fabricantes automóveis tem previsto vir a implementar infraestruturas de carregamento dos carros elétricos alimentadas com eletricidade produzida a partir de fontes renováveis. “Adicionalmente, a produção de baterias gera uma pegada de carbono maior do que a resultante dos combustíveis fósseis e as limitadas reservas de lítio e de outros metais raros, exigem que os fabricantes produzam carros elétricos sustentáveis. A economia circular (uma ferramenta essencial para ajudar a prolongar a vida útil dos veículos e das peças sobressalentes), bem como novos modelos de negócio, serão fatores críticos para que os carros elétricos alcancem todo o seu potencial de sustentabilidade”, aponta esta consultora que conclui: “As empresas do setor automóvel devem por isso aumentar a sua participação na economia circular”.
APENAS 15% DOS FABRICANTES AUTOMÓVEIS TEM PREVISTO VIR A IMPLEMENTAR INFRAESTRUTURAS DE CARREGAMENTO DOS CARROS ELÉTRICOS ALIMENTADAS COM ENERGIA RENOVÁVEL
Segundo a Capgemini, uma das formas mais eficazes das empresas do setor automóvel melhorarem os níveis de sustentabilidade é adotarem um sistema de economia circular. Este sistema aplica-se a várias áreas essenciais da sustentabilidade, desde a cadeia de abastecimento à reciclagem, passando pela política de compras e pelo pós-venda.
Os consultores destacam o exemplo da Michelin que reutiliza 85% dos pneus velhos, recauchutando-os na sua fábrica do Reino Unido, contribuindo para a emissão de menos 60 kg de carbono por pneu. Outro caso citado é o da GM que gerou mil milhões de dólares com a venda de resíduos recicláveis.
No entanto, e continuando com a análise da Capgemini, ainda falta muito para que os fabricantes do setor automóvel integrem totalmente um modelo de economia circular. As empresas inquiridas pelo estudo disseram que apenas 32% da sua cadeia de abastecimento contribui atualmente para a economia circular. “Espera-se, contudo, que esta percentagem aumente para os 51% nos próximos cinco anos”, diz a Capgemini.Regista-se igualmente uma discrepância significativa entre as iniciativas da economia circular que são mais conhecidas (75% recicla um “volume considerável” de resíduos industriais e 71% incentiva a utilização de peças e componentes renovados junto dos utilizadores finais) e as menos conhecidas: só 51% está a fazer investimentos na infraestrutura e em competências capazes de garantir a reutilização de componentes antigos ou de sucata, e apenas 36% estabeleceram colaborações para darem uma segunda vida às baterias dos carros elétricos.
Recomendações
O estudo apresenta igualmente um conjunto de recomendações, baseadas nas medidas adotadas por empresas importantes do setor e que estão na linha da frente ao nível das políticas e das estratégias de sustentabilidade. Nomeadamente:
- Demonstrar a evolução concreta da sustentabilidade, comparando os resultados alcançados com um conjunto de indicadores standards.
- Eleger a sustentabilidade como uma missão transversal a toda a empresa.
- Atribuir aos gestores a responsabilidade pela sustentabilidade e investir em modelos de governação robustos.
- Desenhar e divulgar iniciativas de sustentabilidade em toda a cadeia de valor do setor automóvel.
- Utilizar a tecnologia para melhorar a sustentabilidade das operações.
- Fortalecer alianças e colaborações de modo a alcançar um maior impacto.