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Johan van Zyl (Toyota Europe): “A eletrificação será necessária para todos os fabricantes”

Aproxima-se ano fundamental no mercado automóvel europeu, mas Johan van Zyl, Presidente da Toyota Motor Europe (TME) assume-se tranquilo quanto à nova norma de emissões de CO2 que aperta a malha aos construtores automóveis com pesadas multas. Este e muitos outros temas foram abordados em entrevista concedida ao Motor24 por ocasião da apresentação mundial do novo Yaris.

Bastante experiente na área da eletrificação, a Toyota espera, sem sobressaltos, a chegada das novas metas de 95 g/km de CO2 de média por marca, até porque em meados do próximo ano chegará mais um reforço importante na forma do bem-sucedido Yaris, que terá sistema híbrido mais evoluído. Junte-se uma gama quase integralmente eletrificada (apenas o pequeno Aygo ‘escapa’) e a marca nipónica parte consciente de que, por enquanto, não há dramas.

“O beneficio que temos é que por causa das fortes vendas dos nossos híbridos ao longo dos anos, estabelecemos uma base muito forte e vamos conseguir cumprir o nosso alvo de emissões de CO2 para 2020 e é claro também para lá disso. Mas quando olhamos para as metas posteriores, para 2025 e para 2030, esses alvos de emissões são muito duros de alcançar. Por isso, a eletrificação será necessária para todos os fabricantes e fornecedores. Não é possível atingir esses níveis sem eletrificação”, explica van Zyl, concedendo que “no lado da Toyota teremos toda uma oferta de produtos que, embora na sua maioria sejam híbridos, também terá híbridos Plug-in, elétricos a bateria e veículos de pilha de combustível a hidrogénio. Essa será a forma para cumprir os objetivos de CO2”.

Interrogado se a Toyota não sente o mesmo entusiasmo pelos carros elétricos que pelos veículos híbridos, o sul-africano explica que esse não é o caso, mas o que se verifica é uma consonância com o mercado.

“Não é que não estejamos entusiasmados. A verdade é que olhamos para o mercado e vemos quais são as tendências de mercado. Por exemplo, já anunciámos que teremos três veículos elétricos na Europa em 2021 e assim que os clientes europeus estejam preparados para comprar [esses carros], nós poderemos fornecê-los porque a nossa tecnologia permite-nos, com a nossa experiência na eletrificação, também desenvolver veículos 100% elétricos. Não é que seja uma dificuldade tecnológica para nós. É apenas uma questão de leitura de mercado”, começou por explicar, recordando ainda que a acessibilidade de um elétrico ainda não permite uma venda massificada.

“Uma coisa muito importante para nós é a acessibilidade de um 100% elétrico versus um híbrido. Se olhar para o Yaris que oferecemos no mercado, [o seu custo] é metade do preço dos elétricos do segmento B que têm sido lançados. Ainda acreditamos, para já, que na posição em que estamos temos uma boa oferta para os nossos clientes e é isso que nos estão a dizer os nossos clientes, porque os nossos volumes e quota de mercado estão a crescer. Mas isso não quer dizer que não possamos fornecer carros elétricos também”, garantiu.

O desenvolvimento de tecnologias que auxiliem a eletrificação também é, de acordo com Johan van Zyl, determinante para a sua implementação, havendo duas vertentes pelas quais a indústria automóvel pode seguir: a pilha de combustível a hidrogénio e as baterias de estado sólido.

“Sabe, demora tempo até colocar uma nova tecnologia no terreno. Para a Toyota, por exemplo, foram precisos dez anos para vender o primeiro milhão de híbridos e agora já temos mais de 14 milhões vendidos globalmente. E penso que o último milhão foi vendido em nove meses. Claro que no início, com os híbridos, estávamos sozinhos no mercado. Mas a grande coisa com o híbrido é que não é preciso uma rede de carregamento. Mas, se olharmos para os veículos elétricos ou hidrogénio, a rede de abastecimento é um dos seus pontos inibidores. No que toca aos veículos a hidrogénio, também é fortemente vocacionado para camiões e autocarros, pesados de mercadorias, pelo que vemos um crescimento muito forte neste mercado para o hidrogénio. E, claro, para colocar o hidrogénio a ‘andar’ precisamos de volume para estabelecer a infraestrutura. Mas penso que a longo termo o hidrogénio é uma grande forma de transportar energia e é muito interessante que em Portugal tenhamos completado o nosso primeiro autocarro de pilha de combustível com a Caetano. Por isso, Portugal está muito interessado em estabelecer os autocarros a hidrogénio”, referiu.

Sobre as baterias de estado sólido, o principal responsável pelos destinos da Toyota na Europa aponta duas problemáticas ligadas aos veículos elétricos – a autonomia e o carregamento -, apontando que estão a ser efetuados desenvolvimentos nesses campos, mas não acredita “que seja possível ter baterias de estado sólido em grande volume para comercializar” a curto-prazo. Mas, observa, a “tecnologia está lá”.

Segmento A assegurado

Ainda sobre o mercado europeu, o executivo garante continuidade para o pequeno Aygo no segmento A, não obstante esse ser um segmento que, para algumas marcas, se revela penalizador no espetro de média de emissões poluentes.

“O segmento B, com o nosso Yaris é o maior contribuidor para o nosso volume de vendas e continuará a ser um forte contribuidor no futuro. No segmento A, não vamos sair do segmento. Vamos ficar. Estamos muito contentes com o desempenho do nosso Aygo. Como sabe, comprámos a fábrica na República Checa pelo que temos planos entusiasmantes para essas instalações”, explicou, embora não tenha concretizado se esse avanço se fará em parceria com mais alguma marca. Recorde-se que o Yaris nasce de uma parceria com o Grupo PSA, que tem correspondentes na Peugeot (108) e Citroën (C1).

A Toyota está também prestes a atingir o sucesso no Mundial de Ralis (WRC) com o piloto estónio Ott Tanak e no Mundial de Endurance (WEC), com Johan van Zyl a explicar a mais-valia destes projetos para a criação de uma imagem de marca distinta e no desenvolvimento e validação tecnológica.

“Nós não queremos apenas construir carros que sejam fiáveis e duráveis. Isso é um dado adquirido. Mas queremos que também sejam conhecidos por serem divertidos de conduzir e que desfrutem com estilo e personalidade. É por isso que estamos no desporto, para trazer emoção para a marca, mas também para ver o desempenho dos carros e o comportamento da tecnologia naquela que é a mais dura das condições. Antigamente, dizia-se ‘que corria ao domingo, vendia-se na segunda’. Se ainda é assim não sei, mas é isso que fazemos. Queremos criar excitação em torno da marca. Queremos que a marca seja vista como uma marca entusiasmante, mas também nos permite desenvolver a tecnologia em condições muito difíceis. Por exemplo, o nosso carro do WEC, no qual testamos a tecnologia híbrida em condições muito, muito difíceis”.

Partilha de esforços

Uma grande parte dos esforços da Toyota passa também pelas parcerias e sinergias com outras marcas ou fabricantes, como são os casos recentes da BMW, da Mazda e da Subaru, marca com a qual foi assinado nas últimas semanas um documento para o desenvolvimento comum de um SUV elétrico e de um sucessor para o GT86.

“Em primeiro lugar, estas parcerias ou alianças que criamos servem para criar trabalho conjunto e muito dele passa por desenvolver tecnologia elétrica ou de pilha de combustível, ou até, no caso da Subaru, anunciámos que vamos fazer um SUV elétrico com eles. Cada uma destas alianças tem os seus projetos específicos, pelo que não é igual para todos. Com a Mazda, por exemplo, passa também pelo desenvolvimento de veículos elétricos e parceria nas tecnologias de baterias elétricas”

Mas, se o presente e o futuro ocupam uma grande parte da vida de Johan van Zyl, também o passado é muito importante para este executivo, mostrando-se um forte admirador de clássicos, sobretudo dos roadsters britânicos e italianos. A este respeito, revelou que a sua compra mais recente foi um MGA de 1969 mas, ao mesmo tempo, lamentou não ter tempo para restaurá-los.

“Tenho algum interesse em carros de que gosto muito, mas não tenho tempo para restaurá-los. O meu primeiro carro restaurado foi um Alfa Romeo Veloce de 1970 e demorei, penso que, 20 anos para ter tudo lugar”.

*Em Amesterdão.

Fonte: Motor 24
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