Está cada vez mais intenso o debate que pode levar ao fim a produção de minicarros. A justificativa é que, com regras e leis voltadas para a emissão de CO2 cada vez mais duras, torna-se economicamente inviável produzir os chamados carrospopulares compactos. A dificuldade, segundo as montadoras, ocorre com o elevado custo da tecnologia para produção de motores “limpos“, que impedem o desenvolvimento de automóveis compactos, baratos, voltados para a base da pirâmide social de consumidores. Essa discussão está em pauta na Europa, mas vai, mais cedo ou mais tarde, chegar a outros mercados, à medida que regras de emissão cheguem aos centrosurbanos de todo o planeta.
O primeiro sinal concreto dessa nova realidade foi dado no fim de outubro, quando a Fiat, líder de mercados de minicarros com o Panda e o 500, revelou estar pensando em rever seus modelos de entrada porque as regras mais duras de emissões elevam demais seus custos de desenvolvimento. O CEO da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) disse que o fabricante planeja “levar” seus clientes do segmento de minicarros para o segmento “B”, de subcompactos. “Em um futuro muito breve, iremos voltar o nosso foco para esse segmento de maior volume e maior margem, e isso representa o afastamento do segmento de minicarros“, disse Michael Manley, durante a reunião de apresentação dos resultados do terceiro trimestre da FCA na Europa.
O charmoso Fiat500, hatchback de três portas e estilo retrô, e o popular e funcional Panda hatchback dominam o segmento europeu de minicarros, mas estão envelhecendo e precisam ser trocados, ou atualizados. O 500 de três portas está com 12 anos de idade. Foi lançado em 2007, com seu estilo retrô inspirado no Fiat500 original, lançado em 1957, um carro que se tornou ícone da marca. As vendas europeias do 500 registraram queda de 9%, atingindo 100.150 unidades no primeiro semestre.
A terceira geração do Panda foi lançada em fevereiro de 2012 e suas vendas cresceram 15% no primeiro semestre, atingindo 105.534, segundo análise de vendas por segmento da publicação Automotive News Europe. O custo de renovação do 500 pode ser muito caro para atender as próximas regras de emissão na Europa. No terceiro trimestre deste ano, o prejuízo da FCA na Europa foi de 55 milhões de euros (61 milhões de dólares). Manley revelou que os “desafios comerciais” da Fiat na Europa partem de uma exposição muito alta ao segmento de minicarros, de pouco margem de lucratividade, além do fato de serem carros de uma linha que tem a média de idade mais alta da indústria.
O plano da Fiat é reconquistar os clientes do segmento de carros pequenos (subcompactos), que ela abandonou quando o Punto Hatchback foi descontinuado e não substituído. No Brasil, no seu lugar e no do Stilo, chegou o Argo. O Punto foi o líder de vendas da Fiat na Europa por muito tempo, mas o então CEO da FCA, Sergio Marchionne, disse que suas vendas não foram suficientes para o desenvolvimento de um sucessor de forma lucrativa. O segmento de carros pequenos é o maior da Europa além de ser “muito mais lucrativo do que o segmento A (de minicarros), disse Manley. Ele não afirmou quais novos modelos a Fiat vai lançar no segmento subcompacto e também não comentou sobre o futuro do Panda e do 500.
A planejada fusão da FCA com o grupo PSA daria à Fiat acesso à plataforma comum modular, utilizada pelos mais recentes carros do grupo, como o novo Peugeot208 e o Opel Corsa. Esses carros têm versões de motorização elétrica e também versões com motor a combustão interna.Entre os analistas do setor, há quem duvide que a Fiat abandonará completamente o segmento dos minicarros. Felipe Munoz, da Jato Dynamics, acha que a Fiat poderá melhorar o conteúdo e aumentar um pouco as dimensões do 500 e do Panda “para que possam fazer parte do segmento de compactos”. Outra possibilidade seria replicar a fórmula 500 hatchback com um carro um pouco maior. “O Lancia Ypsilon, que é vendido como um carro pequeno, apesar de utilizar a mesma plataforma mini do Panda, é um exemplo de como isso poderá ocorrer”, disse Munoz.
Outros fabricantes estão repensando suas estratégias para os carroscompactos. A Ford e a Opel já abandonaram o segmento de minicarros. A Ford parou de importar para a Europa o Ka+, fabricado na Índia, e a Opel abandonou os modelos coreanos Karl e Adam. Na Volkswagen, executivos revelaram à boca pequena que o fabricante alemão está se preparando para tirar de linha as versões com motor a combustão no minicarro Up, o que certamente significará o desaparecimento também do Seat Mii e do Skoda Citigo, com motor a gasolina.