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Morreu Domingos Piedade, o “senhor Fórmula 1”

O antigo manager e diretor desportivo ficou conhecido com o "senhor Fórmula 1" depois de largos anos a comentar este desporto motorizado na RTP. Tinha 75 anos.

Um dos grandes nomes do automobilismo português, Domingos Piedade, morreu este sábado, vítima de doença prolongada, aos 75 anos. “Era uma das grandes figuras dos bastidores da velocidade automóvel internacional”, afirma José Silva Pires, ex-jornalista do DN ligado ao desporto automóvel. Recorda ainda que trabalhou com marcas e pilotos de renome internacional da Fórmula 1 -conheceu Michael Schumacher e ajudou “a lançar” o piloto alemão – .e era um conhecedor profundo da indústria e desporto automóvel. O seu último cargo foi de administrador da AGM, o braço desportivo da Mercedes.

Trabalhou também com Emerson Fittipaldi, Michele Alborreto e foi amigo próximo de Senna. Durante mais de quatro décadas, Domingos Piedade lidou com as marcas e os nomes de topo da indústria automóvel. Foi vice-presidente da AMG-Mercedes e um dos embaixadores de Portugal na Alemanha. Ganhou as 24 Horas Le Mans como chefe de equipa da Porsche.

“Era também um grande contador de histórias”, recorda José Silva Pires. Na AMG tinha uma função específica que era de ligação ao sultão do Brunei, que comprava um carro da marca de cada cor.

A Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting ((FPAK) também já reagiu à morte de Domingos Piedade.

“O automobilismo português está de luto”, sublinhou o presidente da FPAK, Ni Amorim, em declarações à agência Lusa.

Foi responsável pela descoberta do alemão Michael Schumacher ainda nos karts, gerindo a carreira antigo piloto da Ferrari até à chegada à Fórmula 1, onde conquistou sete campeonatos mundiais.

“Ajudou muitos pilotos portugueses, eu incluído, quando quis internacionalizar a minha carreira. Tenho muitas histórias, que um dia posso contar”, disse ainda Ni Amorim.

O presidente da FPAK considera que Domingos Piedade era “uma figura incontornável do automobilismo português”.

Domingos Piedade nasceu em Lisboa, no bairro da Costa do Castelo. Filho único, os pais eram “grandes comerciantes de frutas e legumes no mercado da Ribeira”, como contou em entrevista ao DN, em 2013.

Tinha 12 anos quando começou a gostar de automóveis. Foi no colégio Nun’Álvares, em Tomar. “Conheci lá o meu amigo José Carlos Botelho Moniz, filho do Júlio Botelho Moniz, que fazia corridas. E um dia fui com o Zé Carlos assistir a uma dessas corridas do pai, no circuito de rua de Cascais. Nessa altura fiquei a gostar de automóveis e a querer perceber um pouco de automobilismo. Mas foi mero acaso. Se o pai do Zé Carlos fosse um grande jogador de golfe, provavelmente eu teria escolhido o golfe”, contou, então.

Foi manager de Emerson Fittipaldi – com o piloto alcançou o título de campeão do mundo – que o convidou para o cargo em 1972. Sobre o brasileiro disse “O Emersom convidou-me para organizar a vida dele, coisa que eu tentei fazer durante dez anos sem sucesso. (…) Eu fui viver com os Fittipaldi para a Suíça. Era mais um filho. E a mãe, a D. Juze, era uma senhora linda, linda. Senti-me sempre parte da família. Mesmo quando não trabalhávamos juntos”.

Foi Fittipaldi quem o apresentou a Senna: “Estou convencido de que Ayrton era um ET. Tinha a capacidade de reduzir tudo o que se passava à volta dele a uma super slow motion “. Recordou assim o dia da morte de Ayrton, a 1 de maio de 1994: ”

“Vi a corrida em Macau. Eram sete, oito da noite quando começou. E lembro-me de ter adormecido, de ter acordado já depois da largada a tempo de ver o acidente que envolveu o Pedro Lamy e o J.J. Lehto. Pensei que a corrida iria parar e haveria reinício, tantos foram os destroços que ficaram na pista. Mas não. E, então, vi depois o acidente, uma falha mecânica fatal. Percebi logo que o Ayrton morrera. Recordo hoje e sempre Ayrton vivo. Curiosamente, não muito tempo antes passara uns dias com ele, no Brasil, na sua fazenda”.

“Ayrton Senna, Emerson Fittipaldi, Schumacher, Jackie Stewart e Jim Clark. A ordem pode variar. Mas o primeiro da lista é sempre o Ayrton”, disse também, quando Alexandra Tavres Teles lhe perguntou quais os pilotos que ocupavam o seu Top 5.

Era casado com a antiga apresentadora da RTP, Ana Paula Reis, com quem tinha dois filhos. Como lema de vida escolhia a frase: «You always meet twice in a lifecycle.».

Apesar de ter assistido à morte, em pista, de pilotos de quem era amigo, dizia que não chorava de tristeza, mas antes de “alegria e comoção”.

Fica por publicar o livro onde contaria as histórias e episódios dos anos em que estece ligado à Fórmula 1. Mas o desejo de Domingos Piedade era que as histórias só fossem reveladas a título póstumo. “E só com bolinha vermelha, para terem o carimbo original.”

Fonte: Diário de Notícias

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