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Têxtil, mobiliário, automóvel e imobiliário estimam quebras de faturação de 50%

Os setores têxtil, mobiliário, automóvel e imobiliário reportam quedas significativas da atividade em março e antecipam nova quebra, de pelo menos 50%, em abril, devido à crise gerada pela covid-19.

Os setores têxtil e vestuário, mobiliário, automóvel e imobiliário reportam quebras de dois dígitos da atividade em março devido à crise gerada pelo surto de covid-19 e antecipam nova deterioração, de pelo menos 50%, da faturação em abril.

No setor têxtil, o impacto da crise sanitária traduziu-se numa queda “próxima dos dois dígitos” da produção e das exportações no mês de março, mas o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) está certo de que o pior ainda está para vir em abril.

“No mês de abril a quebra vai ser de dois dígitos, mas já com um impacto enorme”, antecipou Mário Jorge Machado em declarações à agência Lusa, avançando que os associados da ATP apontam para um recuo “na ordem dos 40, 50 ou mesmo 60%” do volume de negócios.

“São números com proporções muito grandes, números como nunca vimos nas nossas exportações de um mês para o outro”, admitiu, sustentando que “se uma quebra de 10% já é dramática, uma quebra na ordem dos 50% é algo que, sem as ajudas desenhadas [pelo Governo], seria insuportável para as empresas”.

Segundo a associação, “o setor depara-se com sucessivos adiamentos e cancelamento de encomendas por parte dos clientes, que em alguns casos não chegam a pagar encomendas já recebidas”, o que tem “um profundo impacto ao nível dos recebimentos e das receitas, sobretudo num cenário onde os custos fixos permanecem”.

O desânimo estende-se à indústria do mobiliário, onde dois terços do cluster prevê recorrer ao lay-off simplificado, 70% estima perdas de faturação superiores a 50% em abril e um terço antecipa uma quebra desta ordem no acumulado do ano, segundo um inquérito realizado pela associação setorial.

De acordo com a Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA), no final do mês de março, 44% das empresas do cluster tinham interrompido a laboração e, ao longo do mês de abril, a percentagem de empresas em regime de lay-off, parcial ou total, deverá atingir os 66%.

O questionário revelou que uma em cada três empresas sofreu perdas superiores a 50% já no mês de março, em relação ao período homólogo, e em abril 21% dos inquiridos estima quedas de faturação na ordem dos 25%, enquanto 70% antecipa mesmo uma descida superior a 50%.

Para a totalidade do ano 2020, apenas 4% das empresas estima perdas até 10%, sendo que quase dois terços esperam uma redução de 25% e cerca de 30% calcula uma queda superior a 50% face a 2019.

Para o diretor executivo da APIMA, Gualter Morgado, as conclusões do inquérito são “preocupantes”: “Historicamente, sabemos que estes setores são dos mais lentos a assegurarem a retoma, tendo em conta que os bens que produzem não são de primeira necessidade”, sustenta.

Um outro inquérito lançado pela congénere Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) revela que 62,7% das companhias antecipa para agosto quebras superiores a 20% e 40% da faturação, com os empresários a prever “que a situação vai piorar progressivamente” e a aumentarem o seu pessimismo ao longo dos três períodos temporais traçados (15 de março, 15 de maio e 15 de agosto).

Já no setor automóvel, a indústria portuguesa de componentes para veículos aponta para “quebras abruptas” na atividade de 50% em março e de 90% em abril e maio, prevendo que só começará a recuperar em novembro do impacto da pandemia.

“Só a partir de novembro a indústria portuguesa de componentes para o automóvel começará a recuperar, sem contudo chegar aos números de 2019”, antecipa a Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), apontando para uma descida de 30% no volume de negócios na totalidade do ano 2020, para 8,5 mil milhões de euros, contra os 12 mil milhões de euros do ano anterior.

No que se refere à produção automóvel em Portugal, caiu 46,1% em março face a igual mês de 2019, com a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) a explicar que as “importantes roturas nas cadeias de aprovisionamento, nos canais de distribuição, na disponibilidade de mão-de-obra e na continuidade da atividade dos fornecedores” levaram ao “progressivo e inevitável encerramento das unidades de produção automóvel a operar em Portugal a partir do final de março”.

Neste cenário, não surpreende que também o segmento do comércio automóvel tenha sido severamente afetado, com a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) a reportar uma queda acumulada de 86% do mercado de ligeiros de passageiros na primeira quinzena de abril, com apenas 838 veículos matriculados contra os 6.208 do período homólogo de 2019.

Segundo a ACAP, a este fator acresce que “a maioria destas matrículas correspondem a encomendas efetuadas antes de 16 de março, ou seja, a partir desta data a queda foi sempre na ordem dos 80%”.

Já no mercado de viaturas usadas, avisa, “a situação é mais complicada ainda, porque depois daquela data as vendas estagnaram completamente”.

Apontando o setor como “um dos mais afetados” pelo surto epidémico, a ACAP reclama um plano específico de apoio à atividade, lamentando que, ao contrário de outros setores, o automóvel ainda não tenha merecido “qualquer particular atenção do Governo”.

Na área da mediação imobiliária, dados avançados pela Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal (ASMIP) referem que cerca de 85% das empresas estão paradas ou com a atividade reduzida desde o início do isolamento social, mas mais de metade está a tentar preparar ativamente a retoma.

Um inquérito elaborado pela associação junto dos seus associados conclui que, após 56,5% das empresas de mediação terem perdido “todos os negócios contratualizados” desde meados de março, cerca de 33% estão atualmente “com a atividade parada”, enquanto 52% “se encontram a trabalhar apenas a meio termo, concluindo processos que vinham de trás, mas sem acesso a novos clientes e produtos”.

Também o setor da construção exige “medidas extraordinárias” de apoio face à covid-19, estimando que a suspensão das obras terá um impacto direto de 493 milhões de euros na tesouraria das empresas e gerará uma “crise de liquidez imediata”.

“Num cenário de suspensão das obras, a tesouraria das empresas de construção sofre um impacto direto estimado em 493 milhões de euros, gerando uma crise de liquidez imediata, com impacto transversal que seria um verdadeiro desastre económico e social”, avisaram logo em meados de março as associações dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e de Empresas de Construção e Obras Públicas e Serviços (AECOPS).

Numa “primeira estimativa” então efetuada, e tendo por referência os dados relativos ao mês de março de 2019, as associações anteciparam que a paralisação da atividade gerará uma redução de 1,77 mil milhões de euros no volume de negócios, mantendo-se uma despesa mensal a suportar de 435 milhões de euros relativos aos encargos com salários e remunerações dos 306 mil trabalhadores atualmente registados ao serviço das empresas de construção”.

A este valor “haverá ainda que acrescer 58 milhões de euros de encargos mensais de financiamento destas empresas junto do setor financeiro”, referiram.

A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 137 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 450 mil doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 629 pessoas das 18.841 registadas como infetadas.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa quatro mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

Fonte: Observador

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